nExt Sense
Projeto de Inovação
Segurança em veículos conectados e autónomos
O programa neXt Sense tem como objetivo desenvolver uma nova geração de sistemas
sensores automóveis, através da investigação de novos conceitos e soluções para o
desenvolvimento de produtos de qualidade superior na área da condução autónoma.
Está estruturado em quatro subprogramas (SP), três de cariz científico que darão resposta aos desafios da condução autónoma:
- Tecnologia de microssistemas (para sensores automóveis (SP1);
- Confiabilidade e segurança em sensores automóveis (SP2);
- Posicionamento e conectividade para sensores automóveis (SP3);
- Gestão Integrada do Programa (SP4).
Enquadramento SP1
O subprojecto SP1, denominado Tecnologia de microssistemas (MEMS) para sensores automóveis, tem como objetivo desenvolver uma nova geração de sensores automóveis baseados em tecnologia MEMS, capazes de oferecer não apenas capacidades de medição, mas também processamento local de sinal e inteligência embebida. Pretende-se reposicionar o acelerómetro MEMS como um elemento central na arquitetura de sensorização do veículo, transformando-o de um componente passivo para um sensor multifuncional, capaz de interpretar o ambiente em que opera. Para isso, o SP1 articula três linhas de desenvolvimento a P01, P02 e P03.
A primeira, P01, foca-se no desenho e fabrico de acelerómetros MEMS com novas configurações mecânicas que permitam operar em intervalos de frequências mais alargados, mantendo elevada sensibilidade, de forma a suportar múltiplos casos de uso com um único dispositivo. Paralelamente, a linha P02 dedica-se à criação de arquiteturas de hardware customizáveis, inicialmente implementadas em FPGA, que integram microcontroladores abertos, periféricos dedicados e aceleradores de hardware, preparados para gestão eficiente do sensor e para a futura migração para tecnologia ASIC. Por sua vez, a linha P03 desenvolve mecanismos de inteligência embebida baseados em tinyML, otimizando modelos de IA para execução em microcontroladores de baixos recursos, permitindo que a interpretação e classificação de sinais seja feita diretamente no sensor, sem dependência constante do processamento central do veículo.
No seu conjunto, o SP1 pretende criar uma plataforma de sensores MEMS inteligentes, compactos e reprogramáveis, capazes de reduzir o número de sensores especializados presentes no veículo, diminuindo o consumo energético e simplificando a arquitetura eletrónica do sistema. E assim, evoluir de sensores que apenas medem para sensores que compreendem, interpretam e geram valor acrescentado para o veículo.
Os projetos em detalhe
O projeto SP1.P01 concentra-se na investigação e desenvolvimento de novas arquiteturas de acelerómetros MEMS para sistemas de sensores automóveis. O projeto investiga vários modos de funcionamento e mecanismos de acoplamento mecânico para criar uma nova geração de sensores inerciais. Estes sensores operarão sobre um intervalo de frequências alargado, mantendo uma elevada sensibilidade em toda a gama. Esta abordagem visa habilitar a substituição de múltiplos sensores especializados por um único sensor "multiusos" versátil, adequado para diversas aplicações automóveis. Estas aplicações variam desde a deteção de vibração e diagnóstico estrutural até à captação de sinais acústicos dentro do habitáculo e no ambiente exterior.
O projeto estrutura-se em torno de quatro objetivos principais: 1. Demonstrar a viabilidade de acelerómetros MEMS com elevada frequência de ressonância, capazes de captar sinais na região do audível. Isto inclui uma largura de banda mínima de 8 kHz e sensibilidade a níveis acústicos reduzidos. 2 Validar a arquitetura de sensores multiestrutura. Estes sensores apresentarão diferentes massas móveis, integradas num único dispositivo. 3. Demonstrar processos de microfabricação. Estes processos permitirão a integração das múltiplas massas inerciais, mantendo isolamento elétrico. 4. Garantir a integração do dispositivo MEMS com eletrónica de instrumentação de baixo ruído e baixo consumo. Isto garantirá a operacionalidade e diferentes aplicabilidades.
A inovação do P01 reside na sua capacidade de consolidar funcionalidades atualmente distribuídas por múltiplos sensores independentes. Ao criar um sensor único, escalável e multifuncional, o projeto visa reduzir a complexidade, os custos e o volume total do sistema. Isto posiciona o acelerómetro MEMS como um componente crítico nas plataformas de deteção inteligente de próxima geração. O seu papel expande-se para além da deteção de movimento, permitindo a perceção ambiental, funcionalidades de segurança, monitorização da saúde estrutural e melhor interação veículo-condutor.
O resultado do projeto demonstra um protótipo compacto que integrará o sensor inercial MEMS de banda larga e a sua eletrónica associada, demonstrando o seu potencial como sensor "universal" no contexto automóvel.
A linha P02 tem como foco o desenvolvimento de arquiteturas de hardware reconfiguráveis e especializadas para suportar sensores automóveis avançados. O projeto centra-se na criação, em FPGA, de microcontroladores customizáveis baseados em arquiteturas abertas (como RISC-V ou ARM Cortex-M0), acompanhados de um conjunto modular de periféricos e aceleradores de hardware adaptados às necessidades de cada caso de uso. O objetivo consiste em elevar o sensor automóvel de um elemento passivo para um sistema autónomo, energeticamente eficiente e com capacidade de processamento local (incluindo execução de modelos tinyML), reduzindo latências e dependências da ECU central do veículo.
A evolução natural deste desenvolvimento passa pela migração das soluções em FPGA para tecnologia ASIC, de forma a viabilizar integrações mais compactas, robustas e energeticamente eficientes entre o sensor MEMS e a respetiva eletrónica de controlo.
Neste projeto foram explorados diversos casos de uso: classificação do tipo de pavimento, deteção de buracos e lombas, deteção de sirenes de emergência e uso indevido do veículo (vandalismo). Para este desenvolvimento foram instalados no veículo de testes acelerómetros/IMUs e microfones nas quatro suspensões e no centro do veículo e foi utilizado um sistema de aquisição que permitia adquirir todos os sinais sincronamente, permitindo criar datasets de treino, teste e de validação.
No caso da classificação do tipo de pavimento, foi apenas utilizado um acelerómetro no centro do veículo, e foram desenvolvidos aceleradores de hardware para o cálculo das features (Minirocket) e para a Regressão logística, integrada com os diversos aceleradores de hardware desenvolvidos para aquisição e controlo do sistema. Este sistema permitiu obter, em FPGA, uma accuracy de 96.96% e um consumo de potência estimado de 380mW, utilizando uma FPGA com uma tecnologia de fabrico de 28nm. Isto permitiu também diminuir em cerca de 70x a latência (1.2ms) do sistema comparando com um microcontrolador típico.
Para a deteção de lombas e buracos foram realizadas duas implementações, utilizando ferramentas open-source e através do uso de modelos mais genéricos. Para este use-case foram utilizados os quatro sensores colocados junto às suspensões. Utilizando a ferramenta conifer para obter o acelerador de hardware foi possível manter a performance do modelo original, tendo 88,36% de accuracy. Isto permitiu obter um sistema com um consumo de potência de 1,087W numa FPGA com uma tecnologia de fabrico de 65nm.
Utilizando a SVM, foram concebidos e implementados aceleradores em hardware que integram blocos de pré‑processamento dos sinais de aceleração (filtros digitais, wavelets e correlação) e classificadores compactos (SVM), sendo a SVM programável, permitindo ajustar a diferentes veículos e localizações dos sensores. Para funções de configuração, controlo e comunicação, o protótipo integra um core RISC‑V (Ibex). Os coeficientes dos filtros podem ser reajustados via RISC-V, facilitando a acomodação do desgaste dos componentes do veículo ao longo do tempo ou a aplicação noutros casos de uso baseados em acelerómetros. Este sistema permitiu obter uma accuracy de 86,91%.
A deteção de sirenes de emergência foi implementada apenas com recurso a processamento de sinal, onde os sinais são comparados com as métricas retiradas dos datasets e através da correlação entre os sinais é gerado o output do sistema.
Com recurso à mesma descrição de hardware digital baseada em RTL (Register Transfer Level) utilizada para FPGA, foi desenvolvido um ASIC para os casos de uso de deteção de buracos e lombas (SVM) e a deteção de sirenes de emergência.
A migração para ASIC seguiu um fluxo estruturado, começando pela filtragem das primitivas específicas de FPGA (DSPs e BRAMs) e IPs proprietários através da sua substituição por módulos RTL implementados internamente.
Após otimização, seguiu‑se o fluxo ASIC adotado: Síntese, floorplanning, definição do power‑ring e power‑straps, placement, clock‑tree synthesis, routing e signoff. Utilizando para isso ferramentas da Synopsys como o SpyGlass, Fusion Compiler, VCS e Formality.
A área de die utilizada foi de 4,093 mm² e a potência estimada é de 86,7 mW para o sistema de deteção de buracos e lombas e de 92,8 mW para a deteção de sirenes de emergência, utilizando uma tecnologia de fabrico de 14nm.
A linha SP1.P03 concentra-se no desenvolvimento de inteligência embebida diretamente ao nível do sensor, através da criação de classificadores tinyML otimizados para execução em microcontroladores de baixos recursos. O foco é capacitar os sensores MEMS desenvolvidos no âmbito do SP1 para não apenas medir sinais, mas interpretá-los localmente, permitindo que o sensor identifique eventos, diagnostique condições e envie para o veículo informação de mais alto nível, facilitando a tomada de decisão.
O objetivo principal passa por investigar, adaptar e desenvolver modelos de machine learning ultraleves capazes de operar com consumo energético reduzido e footprint computacional mínimo, mantendo precisão adequada aos casos de uso automóveis. Estes modelos serão integrados nas plataformas FPGA e microcontroladores customizáveis desenvolvidos no âmbito da SP1, criando sensores “inteligentes na origem”, que libertam carga de processamento da ECU e reduzem a latência de perceção.
Como resultado do projeto, pretende-se demonstrar protótipos funcionais em FPGA que integrem classificadores tinyML validados em ambiente laboratorial com sensores MEMS reais, demonstrando a capacidade de detetar padrões, reconhecer eventos e expandir o leque de funcionalidades disponíveis num único sensor. A característica inovadora central reside na introdução de Embedded Intelligence ao nível do sensor, algo ainda raro no setor automóvel, onde a maioria das unidades de sensing permanece passiva e dependente de processamento central. Esta abordagem permite reutilizar um único sensor para múltiplos casos de uso, nomeadamente para road surface classification, pothole and speedbump detection, Handling e Misuse, entre outras.
A figura ilustra todos os procedimentos necessários para a correta classificação de casos de Handling e Misuse: na etapa de Labelling, os dados são capturados pelo carro de testes e anotados após um processamento da Sampling Rate e da aplicação de janelamento após filtragem adaptativa dos sinais; na etapa de Model Building, é feito um estudo detalhado dos features mais importantes para classificação, que constituem o input de um modelo XGBoost cuja generalização é avaliada num hold-out test set a partir de diversas métricas de performance.
Enquadramento SP2
O subprojeto SP2 tem como objetivo garantir a segurança global dos sensores automóveis, tanto na perspetiva de Security como de Safety, ou seja, fatores críticos para a condução autónoma. Através dos projetos SP2.P04 e SP2.P05, investigam-se arquiteturas e mecanismos que asseguram a integridade, disponibilidade e fiabilidade dos sistemas sensores em conformidade com as normas ISO/SAE 21434 e ISO 26262.
No domínio da Security, exploram-se soluções baseadas em hardware confiável, como TrustZone-M e Memory Protection Units, complementadas por módulos criptográficos e análise de ataques de canal lateral, culminando na demonstração de um protótipo seguro para sistemas Steer-by-Wire.
No âmbito da Safety, o foco recai em arquiteturas de software e hardware redundantes, incluindo hypervisors de partição estática, kernels de separação e sensores heterogéneos, capazes de garantir tolerância a falhas. Métodos avançados de simulação e injeção de falhas permitem validar as soluções em ambiente controlado. Em conjunto, o SP2 assegura que os sensores de próxima geração da Bosch sejam resilientes, confiáveis e intrinsecamente seguros, preparando a base tecnológica necessária para veículos autónomos com segurança certificável.
Os projetos em detalhe
O projeto SP2.P04 foca-se na vertente de Security (cibersegurança), visando proteger os sensores automóveis contra ameaças externas e ataques maliciosos, em alinhamento com a norma ISO/SAE 21434. A investigação recai sobre a exploração de mecanismos de hardware orientados à proteção, como Unidades de Proteção de Memória (MPU) e tecnologias de Ambientes de Execução Confiáveis (TEE) – nomeadamente TrustZone-M – para reforçar a confidencialidade, integridade e disponibilidade (CIA) dos dados e do firmware do sensor. Módulos criptográficos dedicados são também explorados para acelerar operações de segurança de forma energeticamente eficiente. Paralelamente, o projeto aprofunda a compreensão das vulnerabilidades dos sensores através do estudo de ataques de canal lateral (side-channel attacks). São investigados canais baseados na variação temporal resultante da partilha de recursos microarquiteturais, com validação e replicação em laboratório de ataques de ponta do estado da arte. Este processo permite não só avaliar a robustez das soluções, mas também identificar novas variantes de ataques, contribuindo para uma compreensão mais profunda do panorama de ameaças. Avalia-se ainda como primitivas de segurança existentes em microcontroladores comerciais (COTS) podem ser utilizadas para fortalecer a Security, através do desenvolvimento de componentes de software que abstraem estas mesmas.
Como resultado, demonstra-se a arquitetura do protótipo avançado de segurança para os sensores de suporte à condução autónoma de próxima geração, baseado num sistema Steer-by-Wire (SbW). A solução COTS implementada inclui dois sensores de ângulo de direção para uma melhor precisão e tolerância a falhas, bem como a implementação de um barramento de comunicação redundante e contramedidas de segurança que mitigam potenciais falhas de comunicação e ataques físicos. A solução de tecnologia disruptiva implementa uma arquitetura de compartimentalização baseada na TrustZone-M para criar um Ambiente de Execução Confiável (TEE), no qual os serviços estão mutuamente isolados, impedindo ataques a aplicações críticas de segurança. Esta arquitetura oferece, entre outros, serviços de atualização de firmware, suporte a aceleradores criptográficos e tolerância a falhas, além de permitir ao utilizador integrar e proteger, com total flexibilidade, serviços adicionais adaptados às suas necessidades.
Assim, este projeto apresenta como característica inovadora a aplicação dos diferentes mecanismos acima mencionados no contexto dos sensores automóveis, mantendo a integridade operacional do protótipo avançado de segurança mesmo em caso de falhas de componentes ou ataques externos.
O projeto SP2.P05 dedica-se à investigação de arquiteturas e tecnologias que garantam a Safety (segurança funcional) e a tolerância a falhas nos sistemas de sensores automóveis, um pilar essencial para a condução autónoma e em conformidade com a norma ISO 26262. A investigação centra-se em arquiteturas de software disruptivas, como lightweight hypervisors e separation kernels, que permitem implementar redundância e isolamento de falhas ao nível do software, aumentando a fiabilidade geral do sistema mesmo em microcontroladores com recursos limitados. São também exploradas soluções de sensorização heterogénea, que combinam diferentes princípios de transdução para mitigar falhas de modo comum (common-mode failures), e arquiteturas de hardware redundantes inspiradas nos setores da aviação e militar.
Para validar estas arquiteturas de forma eficiente e precoce, o projeto investiga métodos avançados de simulação, como Processor-in-the-Loop e Hardware-in-the-Loop, que permitem testar software e arquiteturas de forma desacoplada do hardware físico. Adicionalmente, são utilizados mecanismos de injeção de falhas em conformidade com a norma ISO 26262, para avaliar a resiliência dos sistemas de forma sistemática e controlada.
Os protótipos avançados propostos implementam redundância homogénea e heterogénea por hardware, tanto ao nível dos sensores automóveis como a nível de sistema. Para demonstração dos diferentes sensores automóveis, foi desenvolvido um sistema Steer-by-Wire (SbW), que demonstra a funcionalidade das soluções de sensorização de ângulo de direção através de redundância heterogénea. Por outro lado, o protótipo avançado do Brake-by-Wire (BbW) demonstra a funcionalidade do BCP, que se destaca pelo seu conceito baseado no comportamento de deslocamento linear das molas de compressão, mas também pela inovação do pedal. Este último elimina a necessidade da ligação mecânica do pedal no sistema de travagem ao integrar dois sensores redundantes que traduzem a intenção de travagem do utilizador num sinal elétrico.
Os mecanismos de redundância por software também foram explorados, nomeadamente um mecanismo totalmente funcional, adaptado para a arquitetura ARmv8-R, baseado num static partitioning hypervisor (SPH) para hospedar os guests replicados, retirando partido das características de arquitetura do hypervisor utilizado para assegurar o isolamento espacial e temporal entre os componentes de software redundantes.
Enquadramento SP3
O subprojeto SP3 visa desenvolver soluções avançadas de posicionamento e conectividade que respondam aos desafios da condução autónoma, onde precisão, disponibilidade e robustez são fatores críticos. O VMPS, enquanto sensor central, combina GNSS multi-constelação com sensores inerciais, fornecendo estimativas de posição de elevada precisão. No entanto, ambientes urbanos complexos, interferências nos sinais e a necessidade de garantir integridade exigem novas abordagens tecnológicas. Assim, o SP3 aborda a seleção otimizada de satélites (P07), a estimativa de integridade baseada em inteligência artificial (P08), e o desenvolvimento de antenas GNSS adaptativas definidas por software (P09), reforçando a qualidade do sinal recebido. Paralelamente, propõe o desenvolvimento de recetores GNSS flexíveis e reconfiguráveis em FPGA (P10), capazes de acompanhar a evolução das constelações e dos serviços de correção.
A informação de posicionamento é ainda explorada para aplicações de perceção cooperativa, nomeadamente na deteção e mapeamento de condições de piso (P11) e no posicionamento colaborativo entre veículos (P12). Por fim, o SP3 investiga uma nova arquitetura distribuída entre veículos e infraestrutura, suportada por fog computing para aplicações V2X para segurança rodoviária (P13).
Os projetos em detalhe
A linha SP3.P07 tem como objetivo investigar e desenvolver um algoritmo de seleção de satélites otimizado para sistemas GNSS multi-constelação utilizados em aplicações automóveis avançadas. Pretende-se assim, substituir abordagens convencionais baseadas exclusivamente em métricas geométricas, por um método holístico que considere, de forma integrada, não só a geometria da constelação, mas também informação sobre o estado dos sinais recebidos, os serviços de correção disponíveis e o impacto de cada combinação na precisão e robustez do posicionamento final. O foco está em garantir um posicionamento mais estável, consistente e de elevada exatidão, particularmente em cenários complexos e dinâmicos, como ambientes urbanos densos ou condições de receção degradada.
O projeto contempla o estudo e implementação de um algoritmo eficiente de seleção de subconjuntos de satélites, capaz de adaptar a seleção ao contexto operacional e às limitações reais do recetor. Inclui ainda a análise comparativa entre diferentes serviços de correção, estudando-se formatos, cadências de transmissão e o seu impacto na exatidão e precisão alcançada. Este trabalho inclui ainda uma análise às combinações ótimas de sinais GNSS multi-frequência e multi-constelação, identificando quais configurações oferecem o melhor compromisso entre precisão, robustez e disponibilidade, de acordo com os serviços de correção analisados.
Como resultado, demonstra-se um algoritmo global de seleção de satélites, capaz de operar de modo eficiente e adaptativo em cenários reais, bem como a identificação das combinações de sinais e serviços de correção que maximizam a qualidade de posicionamento. A característica inovadora deste projeto reside precisamente na evolução de um processo tradicionalmente estático e baseado em heurísticas simples, para uma abordagem inteligente, otimizada e orientada ao contexto, estabelecendo um novo padrão de seleção de satélites para aplicações automóveis que exigem alta confiabilidade e precisão contínua.
A linha SP3.P08 tem como objetivo desenvolver um método avançado de monitorização de integridade para sistemas de posicionamento GNSS/INS aplicados à condução de veículos em estrada, recorrendo a abordagens baseadas em inteligência artificial. Os sinais GNSS utilizados em veículos terrestres estão expostos a cenários operacionais altamente variáveis, caracterizados por obstruções urbanas, reflexões multipath, interferências intencionais e não intencionais, e degradações ambientais significativas. Estes fatores provocam alterações bruscas na qualidade do posicionamento e tornam insuficientes os métodos tradicionais de integridade desenvolvidos originalmente para a aviação, onde o ambiente é substancialmente mais previsível e controlado. Assim, torna-se necessário implementar novos modelos que consigam detetar, antecipar e caracterizar degradações na confiabilidade da solução de navegação, assegurando níveis de fiabilidade e robustez adequados às exigências da condução autónoma e assistida.
Assim, o projeto incidiu no estudo e definição das características relevantes dos sinais GNSS e inerciais para identificar erros, anomalias e inconsistências, assim como na construção de bases de dados representativas, destinadas ao treino e validação de modelos de IA. Foram avaliadas diferentes abordagens de aprendizagem automática, desde modelos clássicos até arquiteturas de deep learning, incluindo redes convolucionais, comparando desempenho, custo computacional e requisitos de dados. Estes modelos foram integrados em pipelines de monitorização e testados em cenários reais e datasets extensivos, avaliando a sua capacidade de detetar falhas e estimar corretamente a integridade da solução de posicionamento.
Como resultado, demonstrou-se um algoritmo de integridade baseado em IA com desempenho superior às abordagens atuais, acompanhado de uma base de dados etiquetada que suporta desenvolvimento contínuo, validação e reprodutibilidade experimental. A característica inovadora fundamental do SP3.P08 reside na transição da integridade como processo puramente matemático e estático, para um sistema adaptativo, orientado por dados, contextual e evolutivo, adequado ao ambiente dinâmico e imprevisível da circulação automóvel. Esta abordagem representa um passo crucial para a operacionalização segura e robusta de sistemas de navegação para veículos autónomos e assistidos.
A linha SP3.P09 tem como objetivo investigar e desenvolver uma antena GNSS definida por software, capaz de se adaptar dinamicamente ao meio envolvente e à variação constante da geometria satélite-veículo. As antenas GNSS utilizadas atualmente em veículos apresentam características essencialmente estáticas, embora o cenário operacional seja altamente dinâmico: os satélites encontram-se em movimento contínuo, os veículos deslocam-se em ambientes complexos e a propagação do sinal sofre alterações devido a obstruções, reflexões e atenuações, chegando ao recetor com níveis de potência muito reduzidos. Esta falta de adaptabilidade limita a qualidade da receção e, consequentemente, a precisão da solução de posicionamento.
O SP3.P09 propõe a conceção de uma antena reconfigurável composta por elementos controláveis individualmente ou em grupos, permitindo alterar dinamicamente o diagrama de radiação de forma a otimizar a receção conforme o contexto. A investigação abrange o desenvolvimento do hardware de controlo, bem como do software responsável pela reconfiguração dinâmica da antena. Esta abordagem permitirá ajustar a antena ao cenário em tempo-real, adaptando-se ao movimento do veículo, à posição relativa dos satélites e às condições de propagação locais, garantindo uma ligação mais estável e robusta.
Como resultado, pretende-se demonstrar uma antena definida por software totalmente operacional, acompanhada de um sistema de controlo completo e de uma metodologia de reconfiguração que maximize a conectividade GNSS, especialmente em cenários desafiantes. A inovação reside não apenas na capacidade da antena se adaptar de forma autónoma às condições externas, elevando a precisão ao incorporar informação contextual intrínseca ao processo de aquisição do sinal. Assim, esta linha introduz uma evolução significativa no papel da antena no sistema de navegação: de elemento estático para componente dinâmico e funcionalmente integrado no processo de posicionamento de alta precisão, contribuindo diretamente para a robustez e fiabilidade dos sistemas GNSS em veículos inteligentes.
A linha SP3.P10 tem como objetivo investigar e desenvolver uma arquitetura de recetor GNSS baseada em hardware programável (FPGA), concebida para ser flexível, configurável e escalável, permitindo a sua adaptação a diferentes segmentos e requisitos do mercado automóvel. No contexto da modernização GNSS, com a introdução de novos sinais, serviços e constelações, verifica-se uma oportunidade para reinventar o recetor GNSS não como um componente estático, mas como uma plataforma evolutiva capaz de acompanhar a rápida transformação tecnológica dos sistemas de navegação no setor automóvel.
A abordagem proposta centra-se na construção de uma cadeia de receção GNSS modular, em que cada camada funcional, desde a aquisição e rastreio de sinais até à estimativa de posição e navegação, pode ser configurada ou substituída de forma independente, permitindo otimizar o desempenho em função das características do veículo, do mercado-alvo e do nível de assistência ou autonomia pretendido. Este nível de flexibilidade não só facilita a adaptação a diferentes geografias e requisitos regulatórios, como permite introduzir melhorias incrementais sem necessidade de reformulação completa da plataforma. A utilização de FPGA como base tecnológica garante reconfigurabilidade, atualização contínua e integração simplificada com algoritmos avançados de navegação, incluindo técnicas híbridas de fusão sensorial GNSS/INS.
O trabalho desenvolvido inclui a análise comparativa de arquiteturas e algoritmos de recetores GNSS existentes, a definição de uma nova abordagem para localização e navegação mais robusta com uma arquitetura vetorial com auxílio INS (ultra-tight), a exploração de algoritmos de estimação do canal pela filtragem adaptativa e a implementação de protótipos laboratoriais de módulos DSP e firmware associados. Como resultado apresenta-se um demonstrador capaz de servir múltiplos níveis de produto, desde sistemas de posicionamento de custo otimizado até soluções com foco em precisão e disponibilidade elevadas. A característica inovadora reside na capacidade de converter o recetor GNSS num sistema verdadeiramente adaptável ao ciclo de evolução dos veículos autónomos, incorporando upgrades de software e hardware ao longo do tempo, reduzindo custos de desenvolvimento e aumentando o tempo de vida tecnológica da solução.
A linha SP3.P11 tem como objetivo investigar e desenvolver um sistema integrado de deteção e classificação das condições de piso em tempo real, recorrendo à fusão de múltiplos sensores e à construção de mapas dinâmicos partilháveis entre veículos. A relevância deste tema é crescente, uma vez que a condição do pavimento tem impacto direto na segurança, na eficiência dos sistemas de assistência à condução e no desempenho de veículos autónomos. A Bosch já disponibiliza serviços e sensores relevantes, como o Predictive Road Condition (PRC), que combina dados dos veículos com informação meteorológica, o Road Condition Sensor (RCS) para detetar água, gelo e neve, e o Road Noise Sensor (RNS), que extrai características do pavimento a partir da vibração das rodas e suspensão. No entanto, estas soluções ainda não integram plenamente outras condições críticas, como rugosidade, buracos, fricção variável ou degradações progressivas do piso.
O SP3.P11 propõe assim o desenvolvimento de um algoritmo de classificação baseado em aprendizagem automática, capaz de integrar a informação proveniente dos sensores RCS e RNS com dados de posicionamento de alta precisão (VMPS), permitindo caracterizar as condições da estrada de forma abrangente e contextual. A metodologia de processamento incluirá a extração de características em múltiplos domínios: tempo, frequência e wavelet, alimentando um conjunto de classificadores (como ensembles de SVM) capazes de distinguir diferentes tipos de pavimento e condições superficiais. O sistema será complementado com um veículo demonstrador, equipado para aquisição, processamento e transmissão de dados em tempo real, permitindo validar o modelo em ambiente controlado e operacional.
Os resultados incluem um sistema robusto de aprendizagem automática para classificação de pavimentos e um método de gestão e padronização de dados que permita construir mapas de condições de estrada atualizados continuamente, possibilitando a difusão desta informação entre veículos e infraestruturas. A inovação reside na fusão integrada entre deteção local (sensores no veículo), posicionamento preciso e conectividade, permitindo que cada veículo contribua para um modelo coletivo e evolutivo do estado da via. Esta abordagem fortalece as bases para um ecossistema cooperativo de circulação segura, essencial para a progressão das funcionalidades de condução assistida e autónoma.
O SP3.P12 propõe o desenvolvimento de uma solução capaz de tirar partido da presença de múltiplos veículos próximos, equipados com sistemas de posicionamento e conectividade, para melhorar o desempenho individual através da sua cooperação.
Em contextos de condução autónoma, a precisão do posicionamento torna-se crítica, especialmente em ambientes complexos e altamente dinâmicos, como áreas urbanas densas, túneis, vias arborizadas ou outros cenários com obstruções parciais de visibilidade dos satélites de GNSS.
A abordagem cooperativa visa mitigar perturbações, reduzir incertezas e aumentar a performance do posicionamento individual. A cooperação entre veículos contribui para um desempenho mais robusto assegurando maior disponibilidade e performance de posicionamento em cenários onde um veículo individualmente pode ser severamente afetado por condições adversas.
Dada a complexidade dos cenários de aplicação e teste, que envolvem cenários urbanos densos e múltiplos veículos equipados com diferentes sensores, o projeto prevê também o desenvolvimento de um ambiente de simulação avançado, essencial para avaliar, validar e otimizar as estratégias desenvolvidas.
Esta ferramenta permite gerar dados sintéticos para vários veículos em cenários e condições realistas, incluindo a propagação de sinais GNSS em ambientes urbanos 3D, bem como diferentes densidades de veículos cooperantes.
Como resultado do SP3.P12, é apresentada uma solução de posicionamento cooperativo que melhora o desempenho individual dos veículos por meio da sua cooperação, acompanhada pelo desenvolvimento de uma plataforma de simulação dedicada ao estudo e avaliação de estratégias de posicionamento veicular.
Assim, a principal inovação reside na transição do paradigma de posicionamento individual para um ecossistema cooperativo, no qual cada veículo contribui para um sistema coletivo e dele beneficia, constituindo mais um passo rumo à concretização de funcionalidades avançadas de condução autónoma em larga escala.
A linha SP3.P13 tem como objetivo investigar e desenvolver uma nova arquitetura de software para redes V2X que articule de forma integrada os módulos embarcados nos veículos (OBUs), as unidades rodoviárias de apoio (RSUs) e servidores de computação distribuída em nevoeiro (Fog Computing). Esta arquitetura pretende responder às necessidades emergentes da mobilidade autónoma, onde a perceção do ambiente e o posicionamento preciso deixam de depender exclusivamente dos sensores do veículo, passando a ser complementados pela colaboração e troca de informação entre veículos, infraestrutura e utilizadores vulneráveis da via.
Com o aumento progressivo do nível de autonomia, as comunicações V2X tornam-se um elemento crítico para reforçar a segurança e a confiança dos sistemas automóveis. Contudo, enquanto os veículos se encontram num processo acelerado de integração de sistemas de posicionamento e comunicação de última geração, peões, ciclistas e outros utilizadores vulneráveis não dispõem ainda de sensores, baterias, comunicações ou precisão de localização comparável. A solução proposta procura colmatar esta assimetria, criando um ecossistema cooperativo onde a perceção rodoviária é partilhada, enriquecida e distribuída em tempo real, permitindo ao veículo antecipar situações de risco e adaptar o seu comportamento de forma mais segura.
O projeto incidiu na conceção de algoritmos avançados para deteção e previsão de movimento de utilizadores vulneráveis, incluindo a estimação em tempo real de situações de perigo, explorando capacidades de computação Fog distribuída na infraestrutura. Paralelamente, foram definidos novos serviços cooperativos, como mapas locais partilhados, mecanismos de alerta distribuído e sistemas de semáforos virtuais. Foi ainda proposta uma arquitetura de software modular para OBUs e RSUs, incorporando mecanismos de segurança aplicacional e modelos de autenticação e validação de informação. Finalmente, foi desenvolvido um protótipo funcional, validado em ambiente laboratorial e em ambiente relevante, que demonstra casos de uso de segurança rodoviária envolvendo veículos e utilizadores vulneráveis.
A inovação do SP3.P13 reside na convergência entre perceção cooperativa, posicionamento distribuído e computação em nevoeiro aplicada a cenários reais, criando um modelo replicável para futuras aplicações V2X. Ao substituir o paradigma de perceção isolada por uma perceção partilhada e contextual, o projeto estabelece um passo crítico na evolução para um sistema de mobilidade onde todos os intervenientes, os veículos, ciclistas e peões, podem ser detetados, localizados e protegidos de forma coordenada e em tempo útil.